MANUEL HORTA
Texto 2
Artes plásticas, intervenção social/comunitária e docência
No meu percurso de Artista Plástico, crio e desenvolvo projetos, atividades, workshops de Artes Plásticas. Atividades inseridas em projetos de intervenção social/comunitária. Algumas destas ao abrigo do Programa Escolhas, em diferentes cidades e contextos de educação formal e informal.
Atuando em meios urbanos socialmente desfavorecidos, com complexas e diversas problemáticas sociais, as atividades de Artes Plásticas, abrangeram destinatários das faixas etárias compreendidas entre os seis e os vinte e quatro anos de idade.
Desenvolvidas em sessões programadas, as atividades e os projetos, contribuíram para explorar diferentes locais, na sua ocorrência, como: sedes de clubes desportivos, sedes de associações, apartamentos convertidos em espaço de projeto intervenção social, espaços públicos, salas de aula, recreios escolares, ginásios e salas polivalentes. Diferentes experiências que são uma mais valia para a minha experiência na prática artística,
Os diferentes projetos desenvolvidos nas atividades realizadas, foram, em contextos pré definidos apresentados expostos, intervieram e exploram diferentes locais e públicos tais como: o Centro Social N.ª Sr.ª da Ajuda, o bairro da Pasteleira, o parque urbano na Pasteleira, na Freguesia de Lordelo do Ouro; o bairro de Ramalde, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, com o Projeto “Raiz”; a Quinta do Covelo na Freguesia de Paranhos, o bairro do Lagarteiro, a sede da Associação Terra Viva!, na Freguesia da Vitória, Porto, com o projeto “Fazer Caminhos”; a Escola E.B 2.3 Ramalho Ortigão, as Escolas EB1 da Lomba e EB1 Noeda, a Gare da estação de comboios em Campanhã, a Associação de moradores da Lomba, a sede do Clube Desportivo Portugal, Porto, com o projeto “Arte na rua pintar o futuro”; a sede do projeto “Arrisca” na Póvoa de Varzim.
Projeto Raiz, na Freguesia de Ramalde, Porto, de 2001 a 2006. Projeto Fazer Caminhos, Freguesias da Vitória e Campanhã, Porto, de 2003 a 2006.
Projeto Arte na Rua, Freguesias do Bonfim e Campanhã, Porto, de 2006 a 2009.Consultar na internet, www.programaescolhas.pt
A aproximação das Artes Plásticas às ciências sociais, (Sociologia, Antropologia, Psicologia), à Animação Socio Cultural, ao Teatro, à Ecologia e ao Desporto, possibilitou explorar contextos interventivos de caracter multidisciplinar e experienciar uma prática orientada para temáticas transversais (1) às diferentes áreas de intervenção de cada projeto de intervenção social e para os seus destinatários.
Nas atividades, projetos, workshops realizados, para transmitir conhecimentos do domínio das Artes Plásticas aos participantes, recorreu-se a dinâmicas de grupo, a processos demonstrativos, para transmissão de conhecimentos teóricos e práticos. A integração dos conhecimentos pelos participantes é verificada na prática e em teoria no decorrer das sessões. As presenças, são registadas por sessão e as sessões são avaliadas pelo grupo de participantes. Exploram-se e fundem-se características de atividades lúdicas e atividades pedagógicas.
As atividades e os projetos desenvolvidos implicam a planificação prévia não sendo estanque na forma mas objetiva em conteúdos e a organização de um dossier técnico constituído por instrumentos de registo de atividade, ficha de atividade, registo de presenças, ficha de avaliação de sessão e ficha de avaliação da atividade, relatório de atividade).
A metodologia seguida no desenvolvimento dos projetos e atividades de Artes Plásticas é dividida em cinco fases programadas. A primeira, a apresentação ou lançamento da atividade, implica o diagnóstico da população ou dos participantes, qual a escolaridade, o que fazem, quais as experiências anteriores neste domínio, qual a sua sensibilidade para as artes, o que sabem, o que gostam, o que os pode motivar. Ainda nesta fase definem-se (s) o (s) grupo (s) de participantes e planifica-se o projeto com o grupo (s); quando o (s) grupo (s) de participantes não define (m) o trabalho/projeto a realizar este é lhes proposto. A segunda fase, a pesquisa, coloca os participantes em contacto com material impresso, livros, revistas, jornais e também com os meios digitais, a internet e outras ferramentas digitais, visitas temáticas, levantamento fotográfico, vídeo, entrevistas, desenho, definir processos e materiais, orçamento e aquisição de materiais. A terceira fase, de construção, dar corpo ao projeto, criar a síntese final da ideia. Os grupos preferencialmente compostos por cinco elementos dividem e cumprem as tarefas, os processos, com orientação próxima e ativa, promovem-se competências pessoais dos diferentes participantes, pretendendo igualmente estimular também novas práticas, que valorizam o individuo, o participante. Fatores que facilitam o desenvolvimento e conclusão do projeto. A quarta fase, a apresentação pública do projeto, a apresentação pré definida, o atingir do objetivo, os participantes são envolvidos no transporte, na montagem, e desmontagem (quando existente), assim como na realização em meios digitais de cartazes e outros meios de divulgação do projeto realizado e também no contacto com o público. A quinta fase, a avaliação final da atividade e conclusão, propõe-se aos participantes realizar a auto - avaliação e a avaliação da atividade/projeto, individual e do grupo. Desta fase resultam ideias que se podem explorar no futuro.
No decorrer das diferentes sessões, fases e processos de desenvolvimento do projeto, os participantes são solicitados na realização de registos fotográficos e vídeo, matéria que é editada também publicada e em meios de difusão no âmbito dos projetos de intervenção social/comunitária (2). Registos visuais que grupo organiza em painéis temáticos demostrativos das pesquisas, das técnicas e processos, materiais e participantes, matéria processual que se apresenta também a público.
Os projetos desenvolvidos foram enriquecedores, no ponto de vista pessoal, pela sua diversidade conceptual e prática, propuseram-se a dar a experimentar e a explorar diferentes técnicas e processos como o desenho, a escultura, a
fotografia preto e branco, fotogramas, revelação, ampliação, fotografia digital) a cerâmica (azulejos), a pintura, a colagem, a modelação, a moldagem, a serigrafia, as artes gráficas e as artes digitais (vídeo e áudio), grafitti, e stencil, estampagem, tecelagem. Foram também explorados e experimentados diferentes instrumentos e ferramentas manuais e mecânicos em diferentes matérias como o cartão, madeira, barro, plasticina, gesso, tecido, fita-cola, fios de cobre, plástico P.E.T., acetato, papel e diversos materiais reutilizados.
Desta prática que relaciona Artes Plásticas e intervenção social/comunitária, as relações humanas estabelecidas com os grupos de participantes e colegas de trabalho, ao longo das diversas sessões realizadas, foram importantes.
Os meios tecnológicos digitais e os “meios mais tracionais” explorados, experimentados e utilizados, a fim de dar corpo a ideias que se apresentam como resultado da presença do agente dinamizador, do fazer individual que como um motor, motiva o coletivo, no quebrar uma certa resistência à experimentação plástica, à educação visual e até a contextos de formação, por parte de um “público” igualmente indiferente às práticas artísticas do passado e atual, um “público” distante das instituições integradoras e difusoras das práticas artísticas. Ao mesmo tempo “um público”, participantes, com uma vivência atual nas suas práticas num planeta de imagens, de marcas de consumo, de estereótipos. Participantes com alguma dificuldade de viver uma prática fora do domínio da forma função (como uma jarra), fora do domínio do comércio. Imaginar, criar com base na vida, no quotidiano e na possibilidade de motivar uma aprendizagem, seja ela em que área do conhecimento for.
“A arte também tem uma História?!”, “Isto também é Arte, “Ele fazia à mão?”(à cerca do trabalho de autores que estão na história da arte), inúmeras questões, admirações e considerações, com as quais me deparei ao longo da atividade exercida.
Salienta-se no domínio da realização de projetos, atividades, worshops de Artes Plásticas, uma prática individual e coletiva na construção e reconstrução de lugares, na intervenção social, na reflexão sobre o meio e sobre o papel da Arte em si.
Neste contexto de atividade, foi possível adquirir informação e experiência quer ao nível das relações humanas, quer ao nível da prática artística e formativa que se transpuseram, distante do conceito de fórmulas chave de ação, mas sim como um conjunto de saberes facilitadores e referenciais, para outras experiências em contextos formativos com currículos específicos enquadrados na escolaridade obrigatória e formação profissional (3).
Também neste contexto “ da escola oficial” foi possível realizar projetos que confrontaram o aluno com a reflexão, ir mais além da receita, da fórmula, questionar o fazer, fazendo, experimentar meios e matérias para dar corpo à ideia, estimular a criatividade, prolongar o referencial cultural e científico que se traduz no desenvolvimento do pensar e da prática da Arte em si.
Mesmo com os mais avançados meios tecnológicos e científicos, quer na prática artística quer na prática industrial e comercial tudo o que o Homem produz é idealizado, é desenhado, esculpido, modelado, moldado, replicado, impresso, por meios artesanais ou industriais, práticas que se encontram na História da Arte (4). Uma ideia, reflexão, que apresento a participantes, alunos e a colegas, reflexão que desenvolvo na prática realizada nos projetos de intervenção social/ comunitária, nas escolas (5), como docente.
Paralelamente à ação desenvolvida configura-se a constante reflexão e pesquisa que vê a Arte como objeto de estudo, coloca-se no ponto de vista da observação (participada) da prática artística e da educação visual. Uma observação que se centra no âmbito, no campo, da intervenção social/comunitária.
O campo que se observa, pelas suas características socialmente multifacetadas, permite um contacto direto com populações, pontos de vista e praticas do quotidiano que contribuem para ver, conviver com diferentes imagens da atualidade, contextos que por sua vez possibilitam a criação de uma espécie de força motriz da atividade criativa (que faz parte da Humanidade). Imagens e experiências, acumuladas, como num banco de dados, também elas construtoras de uma espécie de atelier conceptual, a cabeça (o cérebro), que procura e encontra no meio, a logística, para dar corpo ao desenho, à ideia, para agir sobre a matéria.Muito ainda se pode pesquisar e desenvolver no âmbito da prática artística em complemento e a partir do que já foi feito, como uma espécie de arqueologia e de história que remete a humanidade para o futuro.
Notas
1Multiculturalidade, Ar-livre, Cidadania, Migrações, Literacia.
2 Voz de Ramalde, Jornal do Projeto Raiz, editado entre 2003 a 2006.
3 Atividade como docente, em desenvolvimento de Projeto TEIP, na Escola E.B. 2.3 Prof. Óscar Lopes, em Matosinhos, ano letivo 2009-2010; Atividade como docente, em Área de Expressões e Educação Visual e Tecnológica, Escola EB2.3 do Cerco, Porto, anos letivos 2010-2011 e 2011-2012.
4 Como os exemplos, a Escola Bauhaus, na Alemanhã e o Black Mountain College, nos E.U.A., entre outros exemplos possíveis.
5 Formador/Monitor em Centro de Inclusão Digital no Instituto Profissional do Terço, no Porto, ao abrigo do Programa Escolhas; Projeto Arrisca, Póvoa de Varzim.