MANUEL HORTA

Projeto Cividade: mostra 2

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Projeto Cividade: mostra 2 realiza-se no âmbito de um projeto artístico centrado na Cividade de Terroso, na sua história e no seu património arqueológico, situada no Concelho da Póvoa de Varzim, na Freguesia de Terroso. A primeira escavação arqueológica no lugar ocorreu em 1906, dirigida por Rocha Peixoto (1866-1909), com desenhos de Gonçalo Cruz (1856-1928), desenhador e arquiteto municipal no começo do séc. XX. Em 1961 foi oficialmente decretada como imóvel de interesse público. No presente, sob a competência do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim, a Cividade de Terroso é objeto de pesquisa e de visita. A regularidade dos trabalhos de manutenção e os trabalhos arqueológicos sazonais contribuem para a preservação e conservação do lugar. A Cividade de Terroso é um marco da Cultura Castreja, uma cultura da proto-história que se desenvolveu no noroeste peninsular com domínio tecnológico da pedra, da cerâmica, da tecelagem e dos metais. A conquista do território pelo império romano no séc. II a.C. até ao séc. III-IV d.C. influenciou a construção das muralhas, sistema defensivo ainda visível na Cividade. Na construção civil, os romanos construíam com base em plantas retangulares e usavam tegula (telha cerâmica) em contraste com as construções castrejas de planta circular, piso de saibro (granito amarelo decomposto) e telhado de colmo. O povoado foi orientado segundo os pontos norte--sul e este-oeste, desenho urbanístico com caraterísticas romanas, realizado com instrumentos de medida e orientação: “groma”, “cardo” e “decumanus”. Na prática arqueológica, os carvões encontram-se por vezes em “bolsas de carvão” situadas entre camadas de terra, pedra e saibro. Os carvões encontrados na Cividade podem ser consequência das ações do exército romano, liderado por Decimo Junio Bruto entre 138-136 a.C. quer de outras situações ao longo do tempo. As “bolsas de carvão” podem ser registadas, estudadas, analisadas, isoladas, preservadas e documentas tal como os fragmentos cerâmicos e metálicos que compõem o espólio arqueológico, visitável na sala de arqueologia do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.
Projeto Cividade: mostra 2 apresenta um processo criativo que contém a pesquisa estabelecida na arqueologia, na história, na museologia, e em diferentes ações do autor na Cividade de Terroso, em particular no setor VII, células J e K. Os contextos de ação processuais possibilitaram conhecer, explorar e integrar caraterísticas da Cultura Castreja, da romanização e geológicas e as múltiplas camadas da ação humana no antigo povoado castrejo. Um lugar reticulado para a prática arqueológica, construído por diferentes camadas de informação ao longo do tempo.
A pesquisa e as ações realizadas nos trabalhos arqueológicos e nas visitas efetuadas produziram matéria documental e registos em diferentes suportes, contribuíram para que no atelier se tivessem relacionado e explorado conceitos de escala, de fragmento, “bolsas de carvão”, em múltiplos meios tecnológicos e materiais: desenho, mármore, gesso, cerâmica, carvão vegetal, saibro, vídeo, pirogravura, moldagem, fotografia, áudio, madeira, cobre, alumínio, grafite, acrílico, cera de abelha, papel, cartão, tela, plástico, fita-cola e materiais plásticos reutilizados. Da prática transversal aos domínios da arte e da arqueologia, propõe-se ao observador um percurso que o fio negro, condutor do processo criativo, desenha na matéria arquitetónica, intervencionada com as sínteses de processo e das ações processuais construtivas in situ.
Da ação temporária no espaço público de difusão cultural, acresce e difunde-se uma nova e diferente camada na construção e difusão da Cividade de Terroso como marco de culturas passadas e lugar do presente que se projeta no futuro.